Saudações Caninas!
O Desafio dessa semana gira entorno do filme "Memória para o uso diário", que relata a luta de famílias de desaparecidos políticos do período ditatorial no Brasil, afim de encontrar informações sobre o paradeiro de seus entes.
Pois então...como primeira etapa da atividade, vamos fazer a análise diplomática e tipológica de alguns documentos que aparecem no filme:
ANÁLISE DIPLOMÁTICA E TIPOLÓGICA
Antes, portanto, uma breve introdução do assunto com um trecho do texto de Heloísa Bellotto(2002, p.21) em seu livro Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo: “As metodologias de tratamento documental num e noutro campo são distintas, porém, ao mesmo tempo, imbricadas. O campo de aplicação da Diplomática gira em torno do verídico quanto à estrutura e à finalidade do ato jurídico. Já o da Tipologia gira em torno da relação dos documentos com as atividades institucionais/pessoais.”
Análise 1:
Denominação do documento: Fotografia de Itair José Veloso e sua família
Denominação da espécie: Fotografia
Data tópica: Rio de Janeiro
Data cronológica: 01/08/1963
Espécie: Fotografia
Gênero: iconográfico e textual
Suporte: Película ou Plástico
Formato: Retangular
Forma: Original
Titular: Ivanilda (esposa)
Entidade produtora: Família
Função: Lembrança familiar
Descrição: Fotografia do militante Itair José Veloso e sua família tirada, provavelmente, no primeiro dia de agosto de 1963, que retrata uma “família ilustre”.
Destinação final: Guarda permanente
Autenticidade e veracidade: O documento é autêntico visto que é uma fotografia de Itair José e sua família que é mostrada no documentário. E é verídica, pois de acordo com o documentário, as pessoas mostradas na fotografia são as pessoas que dizem ser.
Num contexto anterior ao dia 22 de maio de 1975, data de desaparecimento do militante Itair José Veloso, o documento apresentado acima, pertencente ao fundo da família Veloso, tinha a função de memória familiar, recordação de um momento feliz datado em 01/08/1963. Após o desaparecimento de Itair a fotografia adquiriu uma nova função: identificar o operário e dirigente do PCB e desaparecido desde 1975, a fim de buscar pistas sobre o paradeiro do mesmo.
Análise 2:
Denominação do documento: Crânio de militante Ramires Maranhão do Vale
Denominação da espécie: Ossada craniana
Data tópica: Rio de Janeiro
Data cronológica:
Espécie: Osso
Gênero: 3 D
Suporte: Osso
Formato: “craniano”
Forma: Original
Titular: Família do Ramires Maranhão do Vale
Entidade produtora:
Função: Provar a morte de um desaparecido político durante a ditadura brasileira.
Descrição: Crânio do militante e vítima de tortura Ramires Maranhão do Vale, encontrado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque no subúrbio do Destinação final: Utilização para fins de exame periciais. Após a comprovação da identificação, o documento deverá ser entregue à família para procedimentos funerais.
Autenticidade e veracidade: Autêntico e verídico. Os ossos foram usados como prova de identificação da vítima e posteriormente a família teve a prova da sua busca e pode fazer o velório.
O Documento apresentado recebe tal característica ao tornar-se prova de uma ação, nele estando, portanto, uma informação (a morte) registrada num suporte. Dessa forma, após trinta anos de procura por informações sobre o paradeiro da vítima, o crânio de Ramires Maranhão recebe a função de: provar a morte de uma vítima de tortura durante o período ditatorial brasileiro. Com isso, o “documento” passa a ter uma entidade mantenedora: a família de Ramires.
Análise 3:
Denominação do documento: Placa de endereço
Denominação da espécie: Placa de endereço
Data tópica: Rio de Janeiro, Bangu.
Data cronológica:
Espécie: Placa
Gênero: iconográfico, textual
Suporte: Ferro ou aço.
Formato: Placa
Forma: Original
Titular: Prefeitura do Rio de Janeiro
Entidade produtora: Prefeitura do Rio de Janeiro
Legislação:
Função: Identificação de endereço.
Descrição: Placa de descrição de endereço da Rua Marcos Nonato da Fonseca.
Destinação final: Guarda permanente.
Autenticidade e veracidade: A placa acima é verídica e autêntica. As informações, como foram mostradas no documentário são verídicas, pois identificam a rua na qual foi dado o nome de uma das vítimas da tortura.
Num contexto social a referida placa tem função de Identificar a Rua Nonato da Fonseca na região de Bangu, no Rio de Janeiro. Em outro contexto (da família da vítima, por exemplo) a mesma placa pode servir como lembrança de seu ente querido, para que ele não seja esquecido.
Análise 4:
Denominação do documento: Conta de Energia Elétrica do Sr. Carlos A. Batista de Souza.
Denominação da espécie: Conta de Energia Elétrica
Data tópica: Bangu, Rio de Janeiro.
Data cronológica: 03 de abril de algum ano da primeira década do século XXI.
Espécie: Conta
Gênero: iconográfico e textual
Suporte: papel
Formato: aparentemente A4
Forma: Original
Titular: Carlos A Batista de Souza
Entidade produtora: Companhia de Energia Elétrica do Rio de Janeiro
Legislação:
Função: Descrição de gasto mensal com energia elétrica e requisição de pagamento.
Descrição: Conta de Energia Elétrica do Senhor Carlos A Batista de Souza, morador da Rua Marcos Nonato da Fonseca.
Destinação final: Descarte 5 anos após o pagamento.
Autenticidade e veracidade: Documento autêntico, pois é uma conta que é mostrada no documentário para provar o endereço cujo nome da rua foi uma homenagem e pode ser verídico desde que as informações impressas sejam todas verdadeiras.
Para o detentor do documento, no caso o Sr. Carlos Batista, o documento tem como função: a descrição de um gasto mensal com energia elétrica e o pagamento do mesmo. Já para a mãe de Marcos Nonato da Fonseca, vítima de tortura do período militar, a mesma conta serve para provar que realmente existe uma rua intitulada com o nome de seu filho. Se por acaso o morador resolvesse dar a conta de luz para a mãe de Marcos Nonato, o documento continuaria com a mesma proveniência, mas sua função arquivística inicial não existiria para a mesma. O documento teria portanto, a finalidade de lembrar uma rua que recebeu, por homenagem, o nome de seu filho, vítima de tortura.
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